DESIGUALDADES // Segundo dados do IBGE, pouco adiantou a adoção do sistema de cotas raciais no território nacionalMirella Marques // Diariomirella.marques@diariodepernambuco.com.br
Aos 20 anos, a universitária Simone Bispo está matriculada no 1º período do curso de ciências ambientais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Dos 35 alunos da classe, apenas quatro são negros ou pardos. Para estar entre eles, Simone "ralou". Trocou um expediente de trabalho diário por uma bolsa de estudos numa escola particular. E assim tornou-se um dos poucos negros a assegurar vaga no ensino superior do país. A pernambucana representa a exceção dos números divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo o IBGE, as desigualdades de acesso entre brancos e negros às universidades aumentaram de 1997 a 2007. A região Nordeste apresenta os piores índices nacionais e Pernambuco segue a tendência regional. De acordo com o estudo, 58% dos brancos de 18 a 24 anos estão na faculdade. Contra 25% dos negros ou pardos. No Nordeste, os resultados são alarmantes. Apenas um em cada cinco estudantes negros oupardos cursam o ensino superior. O abismo racial observado no ano passado é superior ao registrado em 1997, quando um a cada dez brancos (9,6%) possuia nível superior completo. Essa proporção era de nada menos que um para cada 50 (2,2%) entre os de cor negra e parda. No estado, 10,1% dos brancos com mais de 25 anos têm diploma, contra 3,1% dos negros. Em Recife, a situação é um pouco melhor. Cerca de 16% dos brancos são formados contra 4,6% dos negros/pardos. "O que mais chama a atenção é que a situação do país continua a mesma por anos seguidos. A distância entre negros e brancos permanece igual ou pior", analisou o pesquisador José Luís Petruccelli, um dos responsáveis pelo estudo do IBGE. Conselheira de ONG crê que resultados surjam em 10 anosO pesquisador acredita que os números recentes põem em dúvida a eficácia das políticas afirmativas adotada por 60 instituições de ensino superior no Brasil. Entre elas a adoção do sistema de cotas. "A maioria dos estudantes do país estuda em faculdades particulares. E, se pegarmos os dados recentes, percebemos que a maioria dos jovens de baixa renda são negros. Então eles não têm condições de pagar mensalidades. Como as cotas nas universidades públicas são pequenas e o ProUni (programa federal que dá bolsas de estudos a alunos carentes) atinge uma parcela pequena, percebemos essa crescente disparidade entre negros e brancos", justificou Petruccelli. A conselheira da ONG pernambucana Observatório Negro, Ana Paula Maravalho, discorda. "Os resultados das cotas devem aparecer nos próximos dez anos. A primeira universidade a implantar o sistema no Brasil fez isso em 2003. Não é possível mudar um cenário de 200 anos de desigualdades raciais em menos de dez. Sem as cotas, a política universalista vai causar abismos entre brancos e negros ainda maiores. Em todos os setores da vida, não apenas na educação", opinou. Cotas - Não existem cotas raciais nas universidades pernambucanas. Tanto UFPE quanto Universidade de Pernambuco (UPE) oferecem benefícios apenas aos alunos oriundos da rede pública. Sejam eles de qualquer cor. Apesar dos apelos de alguns movimentos sociais, a pró-reitora acadêmica da UFPE, Ana Cabral, afirmou que a instituição não pensa em adotar cotas raciais. "A cor da pele, não necessariamente, diz a raça da pessoa. Quando incluimos os alunos de escolas públicas, através de bônus de 10% nas notas do vestibular, englobamos um universo maior de pessoas beneficiadas", explicou.
Ensino superiorEstudantes no ensino superior do Brasil 5,5 milhões;
Alunos nas universidades públicas1,1 milhão;
Beneficiados no programa federal ProUni100 mil;
Acesso por raçaBrasil (jovens de 18 a 24 anos)
58% dos brancos estão na universidade;
Só 25% dos pretos ou pardos estão matriculados no ensino superior Nordeste* (18 a 24 anos);
37% dos brancos estudam no ensino superior;
Apenas 17% dos pretos ou pardos estudam em universidade;
Concluintes - Pernambuco (pessoas formadas de 25 anos ou mais) 10,1% são brancos, 3,1% são pretos ou pardos; Região Metropolitana do Recife (pessoas formadas de 25 anos ou mais) 15,7% são brancos, 4,6% são pretos/pardos*; O percentual é o mais baixo do Brasil.
Fonte: IBGE/ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.
Fonte:http://www.diariodepernambuco.com.br/2008/09/26/urbana1_0.asp
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