quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

OBSERVATÓRIO DA LIBERDADE RELIGIOSA NO MUNDO E OUTROS ARTIGOS...

América do Sul

CATÓLICOS BAPTIZADOS
157.816.000
CIRCUNSCRIÇÕES ECLESIÁSTICAS
268
SUPERFÍCIE
8.514.215
POPULAÇÃO
186.770.000
REFUGIADOS
20.783
DESALOJADOS

BRASIL
A Constituição brasileira, no seu Artigo 5º, sanciona e salvaguarda a liberdade religiosa. Além disso, o Código Penal, aprovado em Dezembro de 1998, define certas ofensas contra o sentimento religioso e o respeito pelos mortos como sendo crimes. Não existe nenhuma religião de Estado e não existe igualmente nenhuma obrigação de registo; pelo contrário, todos os grupos religiosos são livres de organizar as suas próprias actividades. As relações entre a Igreja Católica e o Estado são geridas, desde 1945, por meio de uma Concordata.
Também na prática não surgiram quaisquer relatos de violações do direito à liberdade religiosa por parte das autoridades.

O problema do aborto
Começando com a nota emitida no dia 23 de Fevereiro de 2005 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Igreja Católica promoveu uma campanha intensiva contra a proposta de lei do Governo para a liberalização do aborto. De momento, e desde a visita do Papa Bento XVI, em Maio de 2007, esta lei foi retirada da agenda do Congresso brasileiro.

Na realidade, o problema de uma mobilização “secularista” massiva e agressiva por parte de alguns agrupamentos políticos, e de governos e instituições, foi também denunciado pelo conselho especial para a América do secretariado-geral do Sínodo dos Bispos, em Outubro de 2007, tal como relatado pela agência ACI no dia 16 de Outubro de 2007. Estes ataques parecem ser dirigidos especialmente contra a Igreja Católica, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Os que compareceram à reunião do conselho referiram "a produção e o tráfico de drogas, a violência e a corrupção política, a promoção de uma série de leis – sobre o aborto e a eutanásia - contrárias a todas as normas éticas". Os bispos foram ainda mais longe ao realçarem a expansão de uma ideologia política "de tendência neo-marxista" que está a criar "desequilíbrios nas relações internacionais e no seio das instituições internas nestes países, tendo como objectivo colocar de lado a Igreja Católica e deixar de a considerar como um parceiro no diálogo social".
A disseminação da violência
Um clima abrangente de violência, originado por uma variedade de motivos, criou condições difíceis para os padres e trabalhadores pastorais, um facto exemplificado pelo assassinato do Padre Bruno Baldacci, sacerdote italiano que trabalhava na Diocese de São Salvador da Bahia. Foi assassinado na sua própria casa, em Vitória da Conquista, no estado da Bahia, como relatado pela agência noticiosa Zenit no dia 31 de Março de 2006.

Os bispos da Igreja Católica no Brasil expressaram igualmente a sua preocupação com o aumento da violência em várias regiões do país, numa mensagem intitulada "A Justiça e a Paz Consagrar-se-ão” (Fides, 3 de Julho de 2006). "Nós lamentamos que nesta triste situação os direitos humanos de tantas pessoas não tenham sido respeitados”, declararam os bispos neste documento, referindo-se especificamente a recentes erupções de violência e de agressões em São Paulo, no Rio de Janeiro e nos estados do Espírito Santo, Pará, Bahia e Maranhão. De acordo com os bispos, a situação tinha-se deteriorado em especial por causa de "uma falta de políticas adequadas e da ausência do uso apropriado do poder". As difamações e as ameaças de morte contínuas feitas "contra os funcionários da Igreja, os bispos, os sacerdotes e os religiosos, e contra os líderes de movimentos populares que trabalham nas regiões de Altamira e de Santarém, bem como noutros locais", estavam a criar "um clima de tensão e de medo neste país pacífico e trabalhador". Confrontados com esta situação, os bispos brasileiros fizeram um apelo às autoridades ...

BRASIL
autoridades para estas implementarem as medidas necessárias e garantirem a defesa dos direitos de todos os indivíduos.

Fonte: http://www.fundacao-ais.pt/observatorio/detail/id/95



17-12-2008
Católicos e muçulmanos contra o fundamentalismo
Católicos e muçulmanos devem estar juntos na luta contra o fanatismo religioso e o radicalismo. O apelo é lançado no comunicado final do 11.º Colóquio conjunto do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e a "World Islamic Call Society", com sede em Tripoli (Líbia), que chegou ao fim esta Quarta-feira, em Roma.
“Os líderes religiosos têm uma responsabilidade especial em relação à juventude, que requer uma atenção particular para que não seja vítima do fanatismo religioso e o radicalismo, recebendo, pelo contrário, uma sólida educação que os ajude a tornar-se construtores de pontes e de paz”, pode ler-se.
O tema do encontro destes dias foi “Responsabilidade dos líderes religiosos, em especial em tempos de crise”. O colóquio encerrou-se com uma audiência concedida por Bento XVI aos participantes, com o Papa a expressar a sua “satisfação e forte encorajamento” por esta iniciativa.
O documento conclusivo, publicado pela sala de imprensa da Santa Sé, frisa que “a primeira e mais importante responsabilidade dos líderes religiosos é de natureza religiosa, de acordo com as suas respectivas tradições” e que para a cumprir fielmente devem dedicar-se “ao ensino, boas obras e bons exemplos, assim servindo as suas comunidades para a glória de Deus”.
Sublinha igualmente o papel das religiões na promoção de “valores éticos fundamentais” como “a justiça, solidariedade, paz, harmonia social e o bem comum da sociedade como um todo, em particular os mais necessitados, os fracos, os migrantes e os oprimidos”.
No comunicado apela-se aos líderes religiosos para que se preocupem em “prevenir, gerir e remediar” situações de crise, tanto a nível nacional como internacional, de forma a evitar “a sua degeneração em violência confessional”.
“Isto requer um respeito e conhecimento mútuos, promovendo relações pessoais e construindo confiança recíproca, até ao ponto de sermos capaz de enfrentar em conjunto as crise que possam ocorrer”, concluem os participantes no Colóquio.
As cinco sessões do Colóquio deste ano foram dedicadas à apresentação e aprofundamento de três pistas de reflexão, seja por católicos, seja por muçulmanos: Responsabilidade religiosa, Responsabilidades culturais e sociais, Tempos de crise no caminho do diálogo inter-religioso.
As duas delegações, num total de 23 elementos, foram presididas pelo Cardeal Jean-Louis Tauram, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e por Mohamed Ahmed Sherif, secretário-geral da "World Islamic Call Society".
O próximo colóquio decorrerá em Tripoli, em data a definir até 2010.
Departamento de Informação da Fundação AIS/Agência Ecclesia
info@fundacao-ais.pt

10-12-2008
Menos liberdade religiosa no mundo
Mais de 60 países em todo o mundo violam “gravemente” a liberdade religiosa. O número é lançado no “Relatório 2008 - Liberdade Religiosa no Mundo”, publicado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). Segundo a publicação, disponível agora na sua versão portuguesa, os casos mais dramáticos no período estudado registaram-se na Índia, Paquistão, Arábia Saudita e Eritreia, nações onde a liberdade de culto é negada de maneira mais violentas e nas quais os crentes são perseguidos, nalguns casos até à morte.
Esta nova edição do "Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo" retrata uma situação crítica, a nível mundial, da liberdade de culto. Os conflitos militares, o terrorismo e as ditaduras contribuíram, entre outras causas, para as situações mais alarmantes. O relatório analisa a situação da liberdade religiosa em cada país, com base nos testemunhos de representantes da Igreja local, documentos oficiais, artigos de agências de notícias e outros media especializados em assuntos religiosos, bem como nas informações fornecidas por organizações de direitos humanos.
O estudo assinala que a perseguição religiosa está a aumentar em todo o mundo. Entre as principais preocupações apresentadas, está a da Índia, que piorou nos últimos anos, apesar de a Constituição reconhecer a liberdade religiosa. O livro analisa também a situação no Iraque, onde desde finais de Setembro duas mil famílias cristãs tiveram de abandonar Mossul.
Segundo a Fundação AIS, a própria necessidade da obra “sublinha a fragilidade da liberdade religiosa como um princípio fundamental.No relatório é apresentada uma lista de países nos quais se registaram “graves limitações à liberdade religiosa”. Entre eles encontram-se a China, Cuba, Coreia do Norte, Irão, Nigéria, Myanmar (ex-Birmânia), Laos, Arábia Saudita, Paquistão e Sudão. Em seguida, consta uma lista de países nos quais se verificam “limitações legais à liberdade religiosa”, entre os quais se encontram Afeganistão, Argélia, Bahrein, Bangladesh, Bielorrússia, Bolívia, Egipto, Eritreia, Terra Santa (Israel e os territórios palestinos) e México.
A AIS fala ainda de países nos quais se registaram episódios de “repressão legal” e de países nos quais se registaram conflitos locais, analisados já noutras secções. Nalguns casos, como por exemplo na China, “o receio de abrir-se à liberdade de culto coincide com o temor de deixar espaços a outras liberdades”.
Sobre Portugal, é destacado o mal-estar gerado pela demora na regulamentação da Concordata entre o país e a Santa Sé, assinada em 2004, que já levou a manifestações de descontentamento por parte do episcopado católico. O relatório analisa a situação da liberdade religiosa em cada país, com base nos testemunhos de representantes da Igreja local, documentos oficiais, artigos de agências de notícias e outros media especializados em assuntos religiosos, bem como nas informações fornecidas por organizações de direitos humanos. Com este documento, a organização católica internacional AIS pretende apresentar um compêndio general do grau de liberdade religiosa existente em cada um dos países do mundo, além das formas e motivos da repressão que padecem os diferentes grupos religiosos.
A AIS apresenta ainda uma presença renovada na Internet (www.fundacao-ais.pt), na qual se destaca o Observatório da Liberdade Religiosa no Mundo. O Observatório é actualizado anualmente e tem por base o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.
A informação contida neste Observatório foi coligida pela Ajuda à Igreja que Sofre, através dos seus secretariados nacionais, baseando-se em análises às legislações nacionais e documentos oficiais em matéria religiosa, nos testemunhos de representantes religiosos locais e em artigos de agências de notícias especializadas e relatórios de ONG’s internacionais que actuam nesta área. Mantendo um carácter não confessional, este Observatório monitoriza as violações ao direito que assiste a qualquer pessoa, independentemente da sua religião, de professar livremente uma fé – um direito que está consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem (Artigo 18º).
Catarina Martins destaca que este espaço virtual “tem a vantagem de ser uma área dinâmica onde a informação é continuamente actualizada e complementada com outros conteúdos: notícias, projectos, campanhas, etc”.
Fundada em 1947 pelo Padre Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre é uma organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar projectos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades. No início, o trabalho da Ajuda à Igreja que Sofre consistia apenas em auxiliar os refugiados da Alemanha de Leste que fugiam da ocupação comunista, mas rapidamente se espalhou pelos campos de refugiados da Europa e da Ásia, pelas Repúblicas Populares comunistas, pela América Latina e pela África.
Os desafios são múltiplos: totalitarismo de esquerda ou de direita, fanatismo religioso, multiplicação de seitas, materialismo, falta de sacerdotes, etc.A Fundação esforça-se por responder aos apelos numerosos e urgentes que lhe chegam a todo o momento.
Departamento de Informação da Fundação AIS
info@fundacao-ais.pt - www.fundacao-ais.pt

15-12-2008
Perseguições por causa da fé continuam a matar
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada faz agora 60 anos, incluía o direito à liberdade de consciência e de culto. A secção portuguesa da Ajuda à Igreja que Sofre, pela voz da sua presidente, Catarina Martins, lembra como muitos crentes de todo o mundo ainda não vivem essa realidade, sofrendo e morrendo por causa da sua fé.

Qual é a importância da publicação deste relatório nos 60 anos depois da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, pela ONU?
É um pequeno contributo para dar a conhecer a situação da liberdade religiosa no mundo, um dos direitos fundamentais proclamados solenemente há 60 anos. Apesar de ser reconhecido e “aceite” por quase todas as nações do mundo, infelizmente continuam a existir pessoas que são discriminadas, perseguidas, torturadas e até mortas por causa da sua religião, por professarem um credo diferente da religião oficial do Estado ou porque a sua fé as impele a agir, em consciência, de uma determinada maneira que pode entrar em choque com as autoridades.
Fazer o levantamento destes acontecimentos e divulgar periodicamente este Relatório é absolutamente essencial para manter a opinião pública informada e consciente de que estes assuntos dizem respeito a todos nós, como pessoas humanas e cidadãos livres, e que há ainda muito trabalho a fazer e um largo caminho a percorrer para a eliminação de todas estas situações de injustiça.

Que papel tem a AIS na promoção da liberdade religiosa e na denúncia das suas violações?
Curiosamente foi precisamente há 60 anos que a AIS iniciou as suas actividades numa altura em que o mundo acordou, unanimemente, para pôr termo aos horrores da guerra e proclamar a necessidade de defender sempre os Direitos Universais do Homem.
Esta coincidência não é alheia à missão da AIS que nasceu num contexto muito específico, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, e que se inspirou no carisma do Padre Werenfried van Straaten. Efectivamente, a promoção da liberdade religiosa fundamenta-se na convicção profundamente cristã de que todo o ser humano tem dignidade por ter sido criado por Deus à Sua imagem e semelhança.
Estes valores que fundamentam a doutrina social da Igreja foram aprofundados e consolidaram-se com o trabalho de campo da AIS. Apoiamos os cristãos que fogem do Iraque, que são expulsos da Palestina, que se encontram nos campos de refugiados no Darfur, no Chade ou no Congo. Sem a nossa denúncia e apoio incondicional, os cristãos da Terra de Jesus e da Mesopotâmia correm o risco de desaparecer. Na China, uma grande parte dos cristãos da Igreja clandestina ficariam sem recursos para os seus padres, seminaristas e irmãs por causa do controlo excessivo do Estado.

Como é que a AIS-Portugal tem procurado actuar neste campo específico?
Em primeiro lugar, todas as nossas actividades ao nível nacional estão orientadas para a divulgação desta realidade de sofrimento, carências e privações da Igreja que sofre. Periodicamente lançamos campanhas que visam alertar as pessoas, mantê-las atentas e envolvê-las através da oração e da acção. A oração é essencial para o sucesso da nossa actividade e sabemos que a Igreja, como organismo vivo, partilha e comunica tudo, não só os bens materiais mas, sobretudo, os bens espirituais. Neste sentido funciona uma rede de oração que conta já com mais de cinco mil pessoas e da qual fazem parte pessoas e instituições, as comunidades religiosas e quase todos os mosteiros de vida contemplativa, paróquias e grupos de oração, etc.
Todas as nossas publicações e artigos que disponibilizamos aqui em Portugal giram em torno da mesma temática: livros biográficos sobre a história dos mártires da era moderna, espiritualidade e oração, produtos solidários que sustentam famílias cristãs em Belém, monges de clausura na China, etc.

A liberdade religiosa é reconhecida e apreciada no nosso país ou estão a surgir sinais de preocupação?
Naturalmente, em Portugal os cidadãos desfrutam de uma ampla liberdade religiosa que é reconhecida e protegida por uma legislação específica. Existe também a Comissão da Liberdade Religiosa que está atenta e promove diversas iniciativas louváveis.
No entanto, tem havido algumas tensões relacionadas com a falta de regulamentação da Nova Concordata. Assuntos como a assistência religiosa nos hospitais e prisões, as regras para a propriedade dos meios de comunicação e o apoio às IPSS foram questões que, apesar de estarem a ser negociadas, têm gerado algumas fricções e mal entendidos entre a Igreja e o Estado Português.

A que público quer a AIS-Portugal dirigir o Relatório da Liberdade Religiosa 2008?
A publicação periódica deste Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo tem sido um marco importante para as publicações de especialidade, particularmente a Missão Press, a Imprensa Cristã e a Imprensa Regional. No entanto, muitos outros jornalistas têm manifestado o interesse em conhecer os dossiers da liberdade Religiosa no Mundo.
Porém, o público principal é constituído pelos benfeitores da Fundação AIS. Também as mais diversas instituições, ONG, fundações e escolas, têm sido contactadas no sentido de nos ajudarem a divulgar o relatório junto dos seus públicos específicos.

Como é que todo este trabalho vai ser complementado com o Observatório lançado na Internet (www.fundacao-ais.pt)?
A Internet é um canal complementar que se afirma cada vez mais como o canal das novas gerações. Para podermos chegar a um público mais novo é essencial comunicarmos com eles usando a mesma linguagem e estando nos mesmos lugares onde eles se movimentam…
O Observatório disponibiliza toda a informação contida no Relatório da Liberdade Religiosa mas tem a vantagem de ser uma área dinâmica onde a informação é continuamente actualizada e complementada com outros conteúdos: notícias, projectos, campanhas, etc.

Departamento de Informação da Fundação AIS– info@fundacao-ais.pt
Documentação
Bento XVI sobre lei natural e pesquisa teológica
Discurso à Comissão Teológica Internacional
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir o discurso que Bento XVI dirigiu aos participantes na sessão plenária da Comissão Teológica Internacional, dia 5 de dezembro.
* * *
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Professores
Estimados Colaboradores
É com verdadeira alegria que vos recebo no final dos trabalhos da vossa Sessão Plenária anual que, esta vez, coincide com a conclusão do sétimo quinquénio da criação da Comissão Teológica Internacional. Desejo antes de tudo expressar um sentido agradecimento pelas palavras de homenagem que, em nome de todos, D. Luis Francisco Ladaria Ferrer, Secretário-Geral da Comissão Teológica Internacional, quis dirigir-me na sua saudação. O meu agradecimento dirige-se, depois, a todos vós que, ao longo do quinquénio, empregastes as vossas energias num trabalho deveras precioso para a Igreja e para aquele que o Senhor chamou a desempenhar o ministério de Sucessor de Pedro.
De facto, os trabalhos deste sétimo "quinquénio" da Comissão Teológica Internacional já deram um fruto concreto, como D. Ladaria Ferrer recordou, com a publicação do documento"A esperança da salvação para as crianças que morrem sem baptismo", e se preparam para alcançar outra meta importante com o documento "Na busca de uma ética universal: novo olhar sobre a lei natural", que ainda deve ser submetida aos últimos passos previstos pelas Normas dos Estatutos da Comissão, antes da aprovação definitiva. Como já tive a ocasião de afirmar nas precedentes ocasiões, reafirmo a necessidade e a urgência, no contexto de hoje, de criar na cultura e na sociedade civil e política as condições indispensáveis para uma consciência plena do valor irrenunciável da lei moral natural. Também graças ao estudo que empreendestes sobre este assunto fundamental, será claro que a lei natural constitui a verdadeira garantia oferecida a cada um para viver livre e respeitado na sua dignidade de pessoa, e para se sentir defendido de qualquer manipulação ideológica ou abuso perpetrado com base na lei do mais forte. Todos sabemos bem que num mundo formado pelas ciências naturais o conceito metafísico da lei natural está quase ausente, incompreensível. Muito mais, vendo esta sua fundamental importância para as nossas sociedades, para a vida humana, é necessário que seja de novo reproposto e tornado compreensível este conceito no contexto do nosso pensamento: isto é, o facto de que o próprio ser tem em si uma mensagem moral e uma indicação para os caminhos do direito.
Em relação depois ao terceiro tema, Sentido e método da Teologia, que neste quinquénio foi vosso objecto de estudo particular, desejo ressaltar a sua relevância e actualidade. Numa "sociedade planetária" como a que hoje se está a formar, aos teólogos é com frequência pedido pela opinião pública sobretudo que promova o diálogo entre as religiões e as culturas, que contribuam para o desenvolvimento de uma ética que tenha como próprias coordenadas de fundo a paz, a justiça, a defesa do ambiente natural. Trata-se realmente de bens fundamentais. Mas uma teologia limitada a estes nobres objectivos perderia não só a sua própria identidade, mas o próprio fundamento destes bens. A primeira prioridade da teologia, como já o seu nome indica, é falar de Deus, pensar Deus. E a teologia fala de Deus não como de uma hipótese do nosso pensamento. Fala de Deus porque o próprio Deus falou connosco. O verdadeiro trabalho da teologia é entrar na palavra de Deus, tentar compreendê-la na medida do possível e fazê-la compreender ao nosso mundo, e assim encontrar as respostas para as nossas grandes perguntas. Neste trabalho sobressai também que a fé não só não é contrária à razão, mas abre os olhos da razão, alarga o nosso horizonte e permite-nos encontrar as respostas necessárias para os desafios dos tempos diversos.
Sob o ponto de vista objectivo, a verdade é a Revelação de Deus em Cristo Jesus, que exige como resposta a obediência da fé em comunhão com a Igreja e com o seu Magistério. Recuperando assim a identidade da teologia, entendida como reflexão argumentada, sistemática e metódica sobre a Revelação e sobre a fé, também a questão do método é iluminada. O método em teologia nunca se poderá constituir apenas com base nos critérios e nas normas comuns às outras ciências, mas deverá observar antes de tudo os princípios e as normas que derivam da Revelação e da fé, do facto que Deus falou.
Sob o ponto de vista subjectivo, ou seja, do ponto de vista de quem faz teologia, a virtude fundamental do teólogo é procurar a obediência à fé, a humildade da fé que abre os nossos olhos: esta humildade que torna o teólogo colaborador da verdade. Desta forma não acontecerá que ele fale de si mesmo; interiormente purificado pela obediência à verdade, chegará ao contrário a fazer com que a própria Verdade, que o Senhor possa falar através do teólogo e da teologia. Ao mesmo tempo, obterá que, por seu intermédio, a verdade possa ser levada ao mundo.
Por outro lado, a obediência à verdade não significa renúncia à busca e à fadiga de pensar; pelo contrário, a preocupação do pensamento, que indubitavelmente nunca poderá ser na vida dos crentes totalmente satisfeita, dado que estão também eles no caminho da pesquisa e do aprofundamento da Verdade, será contudo uma preocupação que os acompanha e os estimula na peregrinação do pensamento em relação a Deus, e assim resultará fecunda. Por conseguinte, faço votos por que a vossa reflexão sobre estas temáticas consiga fazer ressaltar os princípios autênticos e o significado sólido da verdadeira teologia, de modo a sentir e compreender cada vez melhor as respostas que a Palavra de Deus nos oferece e sem as quais não podemos viver de modo sábio e justo, porque só assim se abre o horizonte universal, infinito da verdade.
O meu obrigado pelo vosso compromisso e pela vossa obra na Comissão Teológica Internacional durante este quinquénio é portanto, ao mesmo tempo, um cordial auspício pelo trabalho futuro deste vosso importante organismo ao serviço da Sé Apostólica e de toda a Igreja. Ao renovar a expressão de sentimentos de satisfação, de afecto e de alegria pelo encontro de hoje, invoco do Senhor, por intercessão da Virgem Santíssima, abundantes luzes celestes sobre o vosso trabalho e de coração concedo-vos uma especial Bênção Apostólica, que faço extensiva às pessoas queridas.
© Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana
Fonte: zenit.org

Espiritualidade


Pregador do Papa: 2ª pregação do Advento
A Bento XVI e à Cúria Romana

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos a segunda pregação do Advento à Cúria Romana que, na presença de Bento XVI, o Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia, pronunciou na capela «Redemptoris Mater», do palácio apostólico do Vaticano.
Segunda pregação do Advento
«Chamados por Deus à comunhão com seu Filho Jesus Cristo»
Para permanecer fiéis ao método da lectio divina, tão recomendada pelo recente Sínodo dos bispos, escutemos as palavras de São Paulo sobre as quais refletiremos nesta meditação:
«Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé. Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo.
1. «Anseio pelo conhecimento de Cristo»
Na semana passada, meditamos sobre a conversão de Paulo como uma metanoia, uma mudança de mente, no modo de conceber a salvação. Paulo, contudo, não se converteu a uma doutrina, ainda que fosse uma doutrina de justificação mediante a fé; Ele se converteu a uma pessoa! Antes que uma mudança de pensamento, a sua foi uma mudança de coração, o encontro com uma pessoa viva. Usa-se com freqüência a expressão «flechada» para denominar um amor à primeira vista que elimina todo obstáculo; em nenhum caso esta metáfora é tão apropriada como em São Paulo.
Vejamos como esta mudança de coração aparece no texto que lemos. Fala do «bem supremo» (hyperecho) de conhecer a Cristo e se sabe que, neste caso, como em toda a Bíblia, conhecer não indica uma descoberta só intelectual, um ter uma idéia de algo, mas um laço vital íntimo, um entrar em relação com o objeto conhecido. O mesmo vale no caso da expressão «anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos». «Conhecer pela participação em seus sofrimentos» não significa, evidentemente, ter uma idéia dos mesmos, mas experimentá-los.
Por acaso li esta passagem em um momento especial da minha vida, no qual me encontrava também eu diante de uma escolha. Eu tinha me ocupado de Cristologia, havia escrito e lido muito sobre este tema, mas quando li «pelo conhecimento de Cristo», compreendi imediatamente que aquele simples pronome pessoal que aparece no original, «ele», (auton) continha mais verdades sobre Jesus que todos os livros escritos ou lidos sobre Ele. Compreendi que, para o apóstolo, Cristo não era um conjunto de doutrinas, de heresias, de dogmas: era uma pessoa viva, presente e realíssima que se podia designar com um simples pronome, como se faz quando se fala de alguém que está presente, assinalando-o com o dedo.
O efeito do enamoramento é duplo. Por um lado, põe em obra uma drástica redução do interesse em si, uma concentração sobre a pessoa amada que faz passar a um segundo plano todo o resto do mundo; por outro, nos faz capazes de sofrer qualquer coisa pela pessoa amada, aceitar a perda de tudo. Vemos ambos os efeitos realizados à perfeição no momento no qual o Apóstolo descobre Cristo: por ele, diz, «tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo».
Aceitou a perda de seus privilégios de «judeu entre os judeus», a estima e a amizade de seus mestres e compatriotas, o ódio e a lástima de quem não compreendia como um homem como ele teria podido deixar-se seduzir por uma seita de fanáticos. A 2ª Carta aos Coríntios inclui a enumeração impressionante de tudo o que ele sofreu por Cristo (cf. 2 Cor 11, 24-28).
O Apóstolo encontrou por si mesmo a única palavra que encerra tudo: «conquistado por Jesus Cristo». Poder-se-ia traduzir também «aferrado», «fascinado» ou, com uma expressão de Jeremias, «seduzido» por Cristo. Os enamorados não se cortam; fizeram-no tantos místicos no cúmulo de seu ardor. Não tenho dificuldade, portanto, para imaginar um Paulo que, em um ímpeto de alegria, após sua conversão, grita ele sozinho aos árabes ou, às margens do mar, o que mais tarde escreveria aos filipenses: «Fui conquistado por Cristo! Fui conquistado por Cristo!».
Conhecemos bem as frases lapidárias e cheias de significado do Apóstolo que cada um gostaria de poder repetir na própria vida: «Para mim viver é Cristo» (Flp 1, 21), e «Não sou eu quem vive, mas Cristo quem vive em mim» (Gál 2, 20).
2. «Em Cristo»
Pois bem, sendo fiel ao anunciado no programa destas pregações, eu gostaria de destacar o que, sobre este ponto, o pensamento de Paulo pode significar, primeiro para a teologia de hoje e depois para a vida espiritual dos crentes.
A experiência pessoal levou Paulo a uma visão global da vida cristã que ele denomina «Em Cristo» (en Christo). A fórmula se repete 83 vezes no corpus paulino, sem contar a expressão afim «com Cristo» (syn Christo) e as expressões pronominais equivalentes «nele» ou «naquele que».
É quase impossível traduzir com palavras o rico conteúdo destas frases. A proposição «em» tem um significado algumas vezes local, outras temporal (no momento no qual Cristo morre e ressuscita), outras instrumental (por meio de Cristo). Descreve a atmosfera espiritual na qual o cristão vive e atua. Paulo aplica a Cristo o que, no discurso ao Areópago de Atenas, diz de Deus, citando um autor pagão: «N’Ele vivemos, nos movemos e existimos» (Atos 17, 28). Mais tarde, o evangelista João expressaria a mesma visão com a imagem do «permanecer em Cristo» (João 15, 4-7).
A estas expressões recorrem aqueles que falam de mística paulina. Frases como «Deus reconciliou em si o mundo em Cristo» (2 Cor 5, 19) são totalizadoras, não deixam fora de Cristo nada nem ninguém. Dizer que os crentes estão «chamados a ser santos» (Romanos 1, 7) equivale para o Apóstolo a dizer que estão «chamados por Deus à comunhão com seu Filho Jesus Cristo» (1 Cor 1, 9).
Justamente, também no mundo protestante, hoje se começa a considerar a visão sintetizada, na expressão «em Cristo» ou «no Espírito», como mais central e representativa do pensamento de Paulo que a própria doutrina da justificação mediante a fé.
O ano paulino poderia revelar-se como a ocasião providencial para fechar todo um período de discussões e confrontos ligados mais ao passado que ao presente, e abrir um novo capítulo no uso do pensamento do Apóstolo. Voltar a usar suas cartas, e em primeiro lugar a Carta aos Romanos, para o fim para o qual foram escritas, que não era, certamente, o de proporcionar às gerações futuras uma palestra na qual exercitar sua perspicácia teológica, mas o de edificar a fé da comunidade, formada em sua maioria por pessoas simples e iletradas. «Anseio ver-vos – diz aos romanos –, a fim de comunicar-vos algum dom espiritual que vos fortaleça, ou melhor, para sentir entre vós o mútuo consolo da fé comum: a vossa e a minha.» (Rom 1, 11-12)
3. Muito além da Reforma e da Contra-reforma
É tempo, creio, de ir muito além da Reforma e muito além da Contra-reforma. O que está em jogo, no princípio do terceiro milênio, já não é o mesmo do início do segundo milênio, quando se produziu a separação entre o Oriente e o Ocidente, e nem sequer da metade do milênio, quando se produziu, dentro da cristandade ocidental, a separação entre católicos e protestantes.
Por dar um só exemplo, o problema já não é o de Lutero de como libertar o homem do sentimento de culpa que o oprime, mas de como devolver ao homem o verdadeiro sentido do pecado que perdeu totalmente. Que sentido tem continuar discutindo sobre «como se dá a justificação do ímpio», quando o homem está convencido de que não precisa de nenhuma justificação e declara com orgulho: «Eu mesmo hoje me acuso e só eu posso absolver-me, eu o homem?» [1].
Eu creio que todas as discussões de séculos entre católicos e protestantes, em torno da fé e das obras, acabaram por fazer-nos perder de vista o principal ponto da mensagem paulina, desviando com freqüência a atenção de Cristo às doutrinas sobre Cristo, na prática, de Cristo aos homens. O que o Apóstolo afirma em Romanos 3 não é que estamos justificados pela fé, mas estamos justificados pela fé em Cristo; não é tanto que estamos justificados pela graça, mas que estamos justificados pela graça de Cristo. O acento é posto em Cristo, mais do que na fé ou na graça.
Após ter apresentado nos capítulos precedentes da Carta à humanidade em seu universal estado de pecado e perdição, o Apóstolo tem o incrível valor de proclamar que esta situação agora mudou radicalmente «em virtude da redenção realizada por Cristo», «pela obediência de um só homem» (Rom 3, 24; 5, 19). A afirmação de que esta salvação se recebe por fé, e não pelas obras, é importantíssima, mas vem em segundo lugar, não em primeiro. Cometeu-se o erro de reduzir a um problema de escolas, dentro do cristianismo, o que era para o Apóstolo uma afirmação de alcance mais amplo, cósmico, universal.
Esta mensagem do Apóstolo sobre a centralidade de Cristo é de grande atualidade. Muitos fatores, com efeito, levam a colocar entre parênteses hoje sua pessoa. Cristo não se questiona hoje em nenhum dos três diálogos mais vivazes em curso entre a Igreja e o mundo. Nem no diálogo entre fé e filosofia, porque a filosofia se ocupa de conceitos metafísicos, não de realidades históricas com a pessoa de Jesus de Nazaré; nem no diálogo com a ciência, com a qual se pode unicamente discutir sobre a existência ou não de um Deus criador, de um projeto por trás da evolução; nem, enfim, no diálogo inter-religioso, que se ocupa daquilo que as religiões podem fazer juntas, em nome de Deus, pelo bem da humanidade.
Poucos, inclusive entre os crentes, quando são perguntados sobre em que crêem, responderiam: creio que Cristo morreu por meus pecados e ressuscitou para minha justificação. A maioria responderia: creio na existência de Deus, em uma vida depois da morte. E, contudo, para Paulo, como para todo o Novo Testamento, a fé que salva é só aquela na morte e ressurreição de Cristo: «Se confessas com tua boca que Jesus é Senhor e crês em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo» (Rom 10, 9).
No mês passado, aconteceu aqui no Vaticano um simpósio promovido pela Academia Pontifícia para as Ciências, com o título «Pontos de vista científicos em torno da evolução do universo da vida», do qual participaram os máximos cientistas de todo o mundo. Eu quis entrevistar, para o programa que dirijo aos sábados à tarde na TV sobre o evangelho, um dos participantes, o professor Francis Collins, diretor do grupo de pesquisa que levou em 2000 a decifrar completamente o genoma humano. Sabendo que era crente, eu lhe fiz, entre outras, a pergunta: «Você creu primeiro em Deus ou em Jesus Cristo?».
Ele respondeu: «Até quando tinha mais ou menos 25 anos, eu era ateu, não tinha uma preparação religiosa, era um cientista que reduzia quase tudo a equações e leis da Física. Mas, como médico, comecei a ver as pessoas que deveriam enfrentar o problema da vida e da morte, e isso me fez pensar que meu ateísmo não era uma idéia arraigada. Comecei a ler textos sobre as argumentações racionais da fé, que não conhecia. Primeiro, cheguei à convicção de que o ateísmo era uma alternativa menos aceitável. Pouco a pouco, cheguei à conclusão de que deve existir um Deus que criou tudo isso, mas não sabia como era esde Deus».
É instrutivo ler, em seu livro «A linguagem de Deus», como ele superou este impasse: «Para mim, era difícil estender a ponte para este Deus. Quanto mais aprendia a conhecê-lo, mais sua pureza e santidade me pareciam inacessíveis. Nesta amarga coincidência, chegou a pessoa de Jesus Cristo. Havia passado mais de um ano desde que decidi crer em alguma espécie de Deus, e agora havia chegado a prestação de contas. Em uma linda manhã de outono, enquanto pela primeira vez, passeando pelas montanhas, eu me dirigia ao oeste do Mississipi, a majestade e a beleza da criação venceram minha resistência. Compreendi que a busca havia chegado a seu fim. Na manhã seguinte, ao sair o sol, eu me ajoelhei sobre a erva úmida e me rendi a Jesus Cristo» [2].
Pensa-se na palavra de Cristo: «Ninguém vai ao Pai senão por mim». Só n’Ele Deus se faz acessível e crível. Graças a esta fé reencontrada, o momento da descoberta do genoma humano foi, ao mesmo tempo, diz ele, uma experiência de exaltação científica e de adoração religiosa.
A conversão deste cientista demonstra que o evento de Damasco se renova na história; Cristo é o mesmo ontem e hoje. Não é fácil para um cientista, especialmente para um biólogo, declarar-se crente publicamente hoje, como não o foi para Saulo: corre-se o risco de ser imediatamente «expulso da sinagoga». E, de fato, é o que aconteceu ao professor Collins, que por sua profissão de fé teve de sofrer os dardos de muitos laicistas.
4. Da presença de Deus à presença de Cristo
Resta-me dizer algo sobre outro ponto: o que o exemplo de Paulo tem a dizer para a vida espiritual dos crentes. Um dos temas mais tratados na espiritualidade católica é o do pensamento da presença de Deus [3]. São incontáveis os tratados sobre este tema desde o século XVI até hoje. Em um deles se lê: «O bom cristão deve habituar-se a este santo exercício em todo tempo e em todo lugar. Ao despertar, dirija em seguida o olhar da alma a Deus, fale e converse com Ele como seu amado Pai. Quando caminhe pelas ruas, tenha os olhos do corpo baixos e modestos, elevando os da alma a Deus» [4].
Distingue-se «o pensamento da presença de Deus» do «sentimento de sua presença: o primeiro depende de nós, o segundo é, ao contrário, dom da graça que depende de nós. (Para São Gregório, «o sentimento da presença» de Deus, a aisthesis parousia, é quase sinônimo de experiência mística).
É uma visão rigidamente teocêntrica que, em alguns autores, chega inclusive ao conselho de «deixar de lado a santa humanidade de Cristo». Santa Teresa de Jesus reagirá energicamente contra esta idéia que reaparece periodicamente no cristianismo, desde Orígenes em diante, tanto oriental como ocidental. Mas a espiritualidade da presença de Deus, também depois da Santa, continuará sendo rigidamente teocêntrica, com todos os problemas que derivam dela, postos de relevo pelos mesmos autores que tratam deles [5].
Neste sentido, o pensamento de São Paulo pode nos ajudar a superar a dificuldade que levou ao declive da espiritualidade da presença de Deus. Ele fala sempre de uma presença de Deus «em Cristo». Uma presença irreversível e insuperável. Não há um estágio da vida espiritual no qual se possa prescindir de Cristo, ou ir «além de Cristo». A vida cristã é uma «vida oculta com Cristo em Deus» (Colossenses 3, 3). Este cristocentrismo paulino não atenua o horizonte trinitário da fé, mas o exalta, porque para Paulo todo o movimento parte do Pai e volta ao Pai, por meio de Cristo, no Espírito Santo. A expressão «em Cristo» é intercambiável, em seus escritos, com a expressão «no Espírito».
A necessidade de superar a humanidade de Cristo, para aceder diretamente ao Logos eterno e à divindade, nascia de uma escassa consideração da ressurreição de Cristo. Esta era vista em seu significado apologético, como prova da divindade de Jesus, e não suficientemente em seu significado mistérico, como início de sua vida «segundo o Espírito», graças à qual a humanidade de Cristo aparece já em sua condição espiritual e, portanto, onipresente e atual.
O que se deriva disso no âmbito prático? Que podemos fazer tudo «em Cristo» e «com Cristo», seja que comamos, durmamos, ou que façamos qualquer outra coisa, diz o Apóstolo (1 Coríntios 10, 31). O Ressuscitado não está presente só porque pensamos n’Ele, mas está realmente junto de nós; não somos nós que devemos, com o pensamento e a imaginação, transladar-nos à sua vida terrena e representar os episódios de sua vida (como se trata de fazer com a meditação dos «mistérios da vida de Cristo»): é Ele, o Ressuscitado, o que vem a nós. Não somos nós que, com a imaginação, temos de fazer-nos contemporâneos de Cristo: é Cristo o que se faz realmente nosso contemporâneo. «Eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo» (a propósito, por que não fazer imediatamente um ato de fé? Ele está aqui, nesta capela, mais presente que qualquer um de nós; busca o olhar de nosso coração e se alegra quando o encontra).
Existe um texto reflete maravilhosamente esta visão da vida cristã, na oração atribuída a São Patrício: «Cristo comigo, Cristo na minha frente, Cristo atrás de mim, Cristo em mim! Cristo debaixo de mim, Cristo sobre mim, Cristo à minha direita, Cristo à minha esquerda»! [6].
Que novo e mais alto significado adquirem as palavras de São Luis María Grinon de Montfort, se aplicarmos ao «Espírito de Cristo» o que ele diz do «espírito de Maria»:
«Devemos abandonar-nos ao Espírito de Cristo para ser movidos e guiados segundo seu querer. Devemos colocar-nos e permanecer entre suas mãos como um instrumento nas mãos de um oleiro, como um alaúde entre as mãos de um hábil instrumentista. Devemos perder-nos e abandonar-nos nele como a pedra que se lança ao mar. É possível fazer tudo isso simplesmente e em um instante, com um só olhar interior ou um leve movimento da vontade, ou inclusive com alguma breve palavra.» [7]
5. Esquecimento do passado
Concluamos voltando ao texto de Filipenses 3. São Paulo acaba suas «confissões» com uma declaração:
«Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo.» (Flp 3, 13-14)
«Prescindindo do passado.» Que passado? O de fariseu, do qual falou antes? Não, o passado de apóstolo na Igreja! Agora, o lucro a considerar perda é outro: é justo o ter já de uma vez considerado tudo perda por Cristo. Era natural pensar: «Que valor tem Paulo: abandonar uma carreira de rabino tão bem iniciada por uma obscura seita de galileus! E que cartas escreveu! Quantas viagens empreendeu, quantas igrejas fundou!».
O Apóstolo intui o perigo mortal de introduzir entre si e Cristo uma «justiça própria», derivada das obras – esta vez, as obras realizadas por causa de Cristo –, e reage energicamente. «Não considero – diz – ter chegado à perfeição.» São Francisco de Assis, no final de sua vida, cortava pela raiz toda tentação de auto-complacência, dizendo: «Comecemos, irmãos, a servir ao Senhor, porque até agora fizemos pouco ou nada» [8].
Esta é a conversão mais necessária para quem já seguiu Cristo e viveu a seu serviço na Igreja. Uma conversão sumamente especial, que não consiste em abandonar o mal, mas, em certo sentido, em abandonar o bem! Ou seja, em tomar distância de tudo o que se fez, repetindo para si mesmos, segundo a sugestão de Cristo: «Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer» (Lucas 17, 10).
Este esvaziar as mãos e os bolsos de toda pretensão, em espírito de pobreza e humildade, é o melhor modo para preparar-nos para o Natal. Recorda-nos um simpático conto natalino que me compraz citar de novo. Ele narra que, entre os pastores que correram na noite de Natal para adorar o Menino, havia um tão pobrezinho que não tinha nada para oferecer e se envergonhava muito. Ao chegarem à gruta, todos competiam ao oferecer seus dons. Maria não sabia como fazer para receber todos, tendo o Menino nos braços. Então, vendo ao pastorinho com as mãos livres, pegou Jesus e o confiou a ele. Ter as mãos vazias foi sua fortuna e, em outro nível, será também a nossa.
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[1] J.-P. Sartre, Il diavolo e il buon dio, X,4 (Parigi, Gallimard 1951, p. 267.).
[2] F. Collins, The Language of God. A Scientist Presents Evidence for Belief, pp. 219-255.
[3] Cf. M. Dupuis, Présence de Dieu, in D Spir. 12, coll. 2107-2136.
[4] F. Arias (+1605), cit. da Dupuis, col. 2111.
[5] Dupuis, cit., col 2121: «Se l'onnipresenza di Dio non si distingue dalla sua essenza, l'esercizio della presenza di Dio non aggiunge al tradizionale tema del ricordo di Dio, se non un sforzo imaginativo».
[6] «Christ with me, Christ before me, Christ behind me, Christ below me, Christ above me, Christ at my right, Christ at my left.»
[7] Cf. S. L. Grignon de Montfort, Trattato della vera devozione a Maria, nr. 257.259 (in Oeuvres complètes, Parigi 1966, pp. 660.661).
[8] Celano,Vita prima, 103 (Fonti Francescane, n. 500).
[Traduzido por Zenit]
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Documentação «On Line»


Instrução vaticana "Dignitas personae"
Da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre algumas questões bioética

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Já se pode ler a instrução "Dignitas personae sobre algumas questões de bioética", publicada dia 12 de dezembro pela Congregação para a Doutrina da Fé, na seção de Documentos do site da Agência Zenit (www.zenit.org).






Encontro em Roma entre católicos e muçulmanos sobre diálogo inter-religioso
Os participantes serão recebidos amanhã pelo Papa

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Ontem começou em Roma o XI Encontro entre o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e a World Islamic Call Society, sobre o tema «A responsabilidade dos líderes religiosos, especialmente em tempos de crise».
No encontro participam 24 especialistas, 12 católicos e outros muçulmanos. O encontro constará de cinco sessões, entre as quais se refletirá sobre a responsabilidade dos líderes religiosos diante da crise e do diálogo inter-religioso.
Pela parte católica, participam os membros da Comissão para as Relações com os Muçulmanos deste dicastério, da qual fazem parte o presidente, cardeal Jean Louis Tauran, e o secretário, o arcebispo Pier Luigi Celata.
Na qualidade de especialistas participam, entre outros, Dom Giovanni Martinelli (vigário apostólico de Trípoli), Jean-Luc Brunin (bispo de Ajaccio) e Khaled Akasheh (chefe do Comitê para o Islã do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso), assim como vários professores universitários, especialistas no mundo islâmico.
Pela parte muçulmana, participam o presidente da World Islamic Call Society em Roma, Mansosur Tantush, o secretário-geral, Mohamed Ahmed Sherif, representantes de federações islâmicas da Áustria e França, assim como vários professores universitários e o diretor do Sahefat Addaawa Newspaper, Abdelati Abdelgalil Alwarfally.
A World Islamic Call Society (WICS) foi fundada em 1972 para promover a civilização e a cultura islâmicas, e tem sua sede em Trípoli (Líbia). Em seus congressos participam mais de 250 organizações islâmicas, procedentes de 80 países.
Esta organização trabalha fundamentalmente no campo educativo e cultural, ainda que também atue como provedor de ajuda humanitária em colaboração com algumas agências da ONU. Outra de suas atividades é o diálogo com os cristãos de diversas confissões.
Com o Conselho Pontifício, a WICS teve 12 encontros nos últimos anos, em Trípoli, Roma, Viena e Malta. Também mantém contato com o Conselho Mundial das Igrejas.

Fonte: zenit.org

Santa Sé



Análise e propostas de Bento XVI diante da crise econômica
Apresentadas em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz


Por Jesús Colina
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- A obsessão dos agentes financeiros por conseguir elevadíssimos lucros no curto prazo é algo perigoso para todos, começando pelos próprios interessados, denuncia Bento XVI.
O Papa fez uma análise do papel das finanças no atual panorama econômico na mensagem escrita por ocasião do Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2009), que nesta ocasião leva por tema: «Combater a pobreza, construir a paz» e que é publicada em uma crise financeira e econômica global em precedentes.
A crise
«Uma atividade financeira confinada no breve e brevíssimo prazo torna-se perigosa para todos, inclusivamente para quem consegue beneficiar dela durante as fases de euforia financeira», adverte o Santo Padre.
Bento XVI, que considera que o combate à pobreza deve levar em conta necessariamente o contexto da globalização, não condena a atividade financeira, e mais, lhe atribui um papel importante para a promoção do desenvolvimento.
«A função objetivamente mais importante do mercado financeiro, que é a de sustentar a longo prazo a possibilidade de investimentos e consequentemente de desenvolvimento, aparece hoje muito frágil: sofre as consequências negativas de um sistema de transações financeiras – a nível nacional e global – baseadas sobre uma lógica de brevíssimo prazo, que busca o incremento do valor das actividades financeiras e se concentra na gestão técnica das diversas formas de risco.
Segundo o Papa, «a recente crise demonstra como a atividade financeira seja às vezes guiada por lógicas puramente auto-referenciais e desprovidas de consideração pelo bem comum a longo prazo».
«O nivelamento dos objectivos dos operadores financeiros globais para o brevíssimo prazo reduz a capacidade de o mercado financeiro realizar a sua função de ponte entre o presente e o futuro: apoio à criação de novas oportunidades de produção e de trabalho a longo prazo».

Propostas
Neste contexto, o Papa considera que é necessário um «quadro jurídico eficaz para a economia» que permita «à comunidade internacional e especialmente aos países pobres individuarem e actuarem soluções coordenadas para enfrentar os referidos problemas».
O Santo Padre exige «estímulos para se criarem instituições eficientes e participativas, bem como apoios para lutar contra a criminalidade e promover uma cultura da legalidade».
Agora, Bento XVI alerta perante «as políticas marcadamente assistencialistas» por considerar que é inegável que «estão na origem de muitos fracassos na ajuda aos países pobres».
O Papa considera que nesta busca de soluções é importante ter em conta o justo e necessário valor do lucro, inclusive na «luta contra a fome e a pobreza absoluta».
«Deste ponto de vista, seja banida a ilusão de que uma política de pura redistribuição da riqueza existente possa resolver o problema de maneira definitiva».
Com efeito, assinala, «o valor da riqueza depende em medida determinante da capacidade de criar rendimento presente e futuro».
Por isso, assegura, «a criação de valor surge como um elo imprescindível, que se há- de ter em conta se se quer lutar contra a pobreza material de modo eficaz e duradouro».

Uma questão de valores
Na primeira jornada dos trabalhos do último Sínodo dos Bispos (Cf. Zenit, 6 de outubro de 2008), o Papa falou da crise, em particular da queda de grandes bancos.
«Sobre a areia constrói quem constrói só sobre as coisas visíveis e tangíveis, sobre o êxito, sobre a carreira, sobre o dinheiro. Aparentemente estas são as verdadeiras realidades. Mas tudo isto um dia passará», assegurou.
A mensagem de Bento XVI por ocasião do Dia Mundial da Paz foi apresentada pelo cardeal Renato R. Martino, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações, como um «aperitivo» da próxima encíclica social que deve ser publicada no início de 2009.
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Cardeal Arinze: celibato sacerdotal consagra mais intimamente a Cristo
Em seu novo livro, «Reflexões sobre o sacerdócio, carta a um jovem sacerdote»

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- «A Igreja, desde sempre, valorizou muito o celibato dos sacerdotes»: assim afirma o cardeal Francis Arinze, até há alguns dias prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em um livro apresentado nesta terça-feira na sede da Rádio Vaticano.
Amplos fragmentos do texto deste livro, titulado «Reflexões sobre o sacerdócio, carta a um jovem sacerdote» (publicado pela Livraria Editora Vaticana) foram também publicados em italiano pelo jornal L'Osservatore Romano.
«Cristo viveu uma vida virginal, ensinou a castidade a seus discípulos e propôs a virgindade aos que estão dispostos e em grau de seguir um chamado semelhante», explica o cardeal Arinze em seu livro.
«Na vida sacerdotal, a continência perpétua pelo reino dos céus expressa e estimula a caridade pastoral. É uma fonte especial de fecundidade espiritual no mundo», «é um testemunho que resplandece no mundo como caminho eficaz para o seguimento de Cristo».
No mundo de hoje, «imerso em uma preocupação exagerada pelo sexo e por sua dessacralização», «um presbítero que vive com alegria, fidelidade e positivamente seu próprio voto de castidade é um testemunho que não pode ser ignorado», observa.
Através do celibato sacerdotal, prossegue o purpurado, «o presbítero se consagra mais intimamente a Cristo no exercício da paternidade espiritual», manifesta-se «com mais disponibilidade» «como ministro de Cristo, esposo da Igreja», e pode «verdadeiramente apresentar-se como sinal vivo do mundo futuro, que já está presente por meio da fé e da caridade».
O sacerdote, adverte o cardeal, «não deve duvidar do valor ou da possibilidade do celibato por causa da ameaça que a solidão representa», pois ela esta está presente em certa dose em todo estado de vida, também na vida matrimonial.
Seria, portanto, um equívoco tentar evitar a solidão, «lançando-se cada vez mais à atividade e organizando continuamente novos encontros, viagens ou visitas».
O que o sacerdote precisa, ao contrário, é «silêncio, quietude e recolhimento para estar na presença de Deus, dar maior atenção a Deus e encontrar Cristo na oração pessoal diante do tabernáculo», porque «só então será capaz de ver Cristo em cada pessoa que encontrar durante seu ministério».
Para viver bem o celibato, também é importante a contribuição da fraternidade, até o ponto de que «o ideal é que o bispo faça que os sacerdotes vivam de dois em dois ou de três em três por paróquia, em vez de sozinhos», porque «têm necessidade uns dos outros para desenvolver ao máximo suas potencialidades».
O presbítero, acrescenta o cardeal em seu livro, «tem Cristo como Mestre», e ainda que não lhe seja possível imitar sua forma de atuar «em cada mínimo detalhe», «isso não nos exime de segui-lo da forma mais próxima possível».
A obediência que o sacerdote vive com relação ao Papa, ao bispo e a seus representantes «baseia-se na fé» e é o instrumento através do qual «o sacerdote dá a Deus a possibilidade de servir-se plenamente dele para realizar a missão da Igreja».
«Deus protege o sacerdote que respeita e obedece a seu bispo com fidelidade firme e nobreza de caráter.»
Como seguidor de Cristo, que em sua vida terrena viveu como pobre, o presbítero está chamado à pobreza.
A virtude da pobreza tem a ver também com o uso pessoal do próprio dinheiro. Evitando tudo aquilo que possa apegá-lo aos bens terrenos e incliná-lo a gastos excessivos, o sacerdote deve lembrar-se dos pobres, dos enfermos, dos idosos e de todos os necessitados em geral.
Os meios de transporte, a casa, o mobiliário, a veste, não devem colocar-lhe do lado dos ricos e dos poderosos.
Um teste sobre a generosidade do sacerdote pode consistir em perguntar-se que motivos de caridade se incluem em seus desejos e quantas pessoas pobres, seminaristas ou candidatos à vida consagrada chorarão em sua morte, reconhecendo que faleceu seu pai em Cristo e seu benfeitor.
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Papa escolhe temas das JMJ até Madri 2011
«Enraizados e edificados em Cristo, inabaláveis na fé»: tema desse encontro

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- O Papa já fixou os temas das três próximas Jornadas Mundiais da Juventude, segundo a Santa Sé deu a conhecer nesta terça-feira.
Estes lemas, dois deles tomados das cartas de São Paulo e um do Evangelho, «favorecerão o itinerário espiritual que culminará com a celebração internacional prevista em Madri (Espanha), de 16 a 21 de agosto de 2011», afirma a mensagem.
O lema da próxima JMJ, que acontecerá no Domingo de Ramos de 2009, em Roma e em cada diocese, é: «Pusemos nossa esperança no Deus vivo» (1 Tm 4, 10).
O da seguinte Jornada, que acontecerá também no âmbito diocesano no Domingo de Ramos de 2010, será «Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?» (Mc 10, 17).
O da 26ª JMJ 2011, que acontecerá em Madri, será: «Enraizados e edificados em Cristo, inabaláveis na fé» (cf. Col 2, 7).
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Mundo



Papa envia bênção aos membros do Regnum Christi
Cardeal Franc Rodé trouxe ao Brasil o alento do pontífice ao Movimento

BRASÍLIA, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Bento XVI enviou sua bênção aos membros e amigos do Movimento Regnum Christi no Brasil que se reuniram de sexta-feira a domingo em Brasília para celebrar o IV Encontro «Juventude e Família».
O cardeal Franc Rodé, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, representante da Santa Sé no evento, levou as palavras de alento do Papa ao Regnum Christi, Movimento que compartilha o carisma e o apostolado da congregação religiosa dos Legionários de Cristo.
Dom Rodé – que acabara de chegar do Chile, onde também se encontrou com membros do Movimento – destacou, momentos depois de encerrar sua conferência aos participantes, esse domingo, as palavras que o Papa lhe falou antes de seu embarque para o Brasil: «estimo-os e os aprecio; diga-lhes que envio minha bênção».
Esse foi praticamente o único momento em que o cardeal pediu desculpas por ter que falar «na língua de Cervantes e não de Luis de Camões», pois disse que poderia se expressar melhor em espanhol, arrancando aplausos da multidão que ouvia atentamente seu claro português.
Nos três dias do Encontro «Juventude e Família», houve diferentes momentos de formação, convivência e impulso de programas de apostolado ao serviço da evangelização e da promoção humana.
Palestras sobre espiritualidade, temas de bioética, workshop com empresários, brinquedoteca para as crianças e iniciativas esportivas para os jovens, shows musicais (entre eles com a Banda Anjos de Resgate), integraram as atividades.
O arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz, presidiu à missa de abertura do evento, na sexta-feira. Em sua homilia, pediu aos presentes que o amor seja «o distintivo de nossas comunidades».
Às vésperas do Natal, Dom João Braz convidou os católicos a montarem um presépio em casa, «para que o Natal seja uma festa onde o aniversário não fique sem o Aniversariante».
No sábado, o diretor geral dos Legionários de Cristo e do Regnum Christi, Pe. Álvaro Corcuera, LC, falou com os membros e amigos do Movimento sobre o lema do evento – Amar mais para servir mais –, refletindo sobre as virtudes teologais e a humildade.
Já o cardeal Rodé, em sua conferência feita integralmente em português, no domingo, fez um forte chamado à evangelização.
«Esse é o espírito dos membros do Regnum Christi: atuar porque faz falta, porque a missão não é um capricho ou uma iniciativa pessoal para preencher o tempo, mas um modo de acudir a uma necessidade vital para os irmãos, algo que agrada a Deus.»
«E neste momento em que reina uma secularização profunda e um forte materialismo hedonista, o mundo necessita desta evangelização», afirmou.
O encerramento do encontro foi marcado por uma missa celebrada pelo cardeal e concelebrada por mais 50 sacerdotes Legionários de Cristo.
O IV Encontro «Juventude e Família», promovido pelo Movimento Regnum Christi e pelos Legionários de Cristo, reuniu ao todo mais de 4 mil pessoas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na capital do Brasil, sendo que a maioria dessas pessoas eram de jovens e famílias jovens. Também estiveram presentes no evento jovens consagradas dentro do Movimento.
O movimento Regnum Christi é realidade eclesial reconhecida pela Santa Sé que conta com cerca de 70 mil membros, jovens e adultos, diáconos e sacerdotes, em mais de 30 países.
Os textos da conferência do cardeal Rodé e de sua homilia na missa de encerramento podem ser encontrados nosite do Regnum Christi.
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Movimentos: evangelizar a cultura, com testemunho de santidade, oração e formação
É o que pede no Brasil o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada

BRASÍLIA, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Aos católicos implicados na vida da Igreja por meio dos novos movimentos, o cardeal Franc Rodé destacou a importância de uma evangelização que incida da sociedade e na cultura, sendo testemunho de uma vida de santidade, oração e formação.
O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica esteve em Brasília esse final de semana para falar aos membros do movimento Regnum Christi, no Encontro «Juventude e Família».
Segundo o cardeal Rodé – que se dirigiu aos presentes em português – a Igreja necessita hoje, «mais do que nunca», de evangelizadores. «Homens e mulheres dispostos a dedicar a sua vida, no seu ambiente ou onde os leve a Providência, a pregar o nome de Cristo, a estender o seu Reino».
«Temos de evangelizar nossos irmãos, as famílias, as empresas, temos de evangelizar a cultura», disse o prefeito da Congregação vaticana, na conferência que dirigiu esse domingo.
O cardeal Rodé enfatizou que não se trata de «impor uma ideologia ou uma doutrina, mas de apresentar Cristo como ideal do ser humano e como Salvador para humanizar e salvar nossos irmãos e as sociedades».
No contexto do Ano Paulino, ao recordar o exemplo do apóstolo, o representante da Santa Sé afirmou que São Paulo ensina que evangelizar «é um serviço que se faz por amor».
Assim, é preciso «crescer na santidade para ser melhores testemunhas de Cristo no mundo. Crescer na santidade, crescer no amor, crescer na esperança, para levar a outros a fé, o amor e a esperança». «A santidade de vida é o cimento do testemunho, do apostolado», acrescentou.
Segundo o cardeal Rodé, São Paulo também «insiste muito» na oração. «A oração é o diálogo com Deus, e é o alimento do apóstolo, do evangelizador. Hoje, quando nos toca viver em ambientes tão adversos, a oração se faz ainda mais importante».
«A oração nos mostra que nosso compromisso evangelizador nasce de Cristo. Evangelizar é dar o que se tem recebido, é ir pregar o Cristo com o que me encontro na oração», disse.
Dom Franc Rodé recordou em seguida que a Conferência de Aparecida dá destaque à «formação necessária para a missão». «O compromisso na missão da Igreja exige uma formação integral excelente, de qualidade».
«A Igreja necessita de homens e mulheres muito bem preparados para poder dialogar com os homens e as mulheres de hoje e poder transmitir-lhes Cristo.»
Hoje, para poder desenvolver sua missão, a Igreja «precisa contar com membros muito bem formados que saibam dar razão de sua fé e oferecer respostas aos homens e mulheres de hoje».
«Por isso peço-lhes que se formem a fundo, sem economizar esforços. Vivam o esforço contínuo de sua formação como um serviço a Cristo e à Igreja. A formação minuciosa de vocês é a melhor garantia de que serão missionários eficazes a serviço de Cristo e da Igreja», afirmou.
Ao destacar que o lema do Encontro era «amar mais para servir mais», o cardeal Rodé explicou que esta foi uma das marcas da vida de São Paulo e deve ser também uma característica essencial de todo cristão.
São Paulo «estava convencido de que sem amor não era nada. Sem amor não somos nada, não somos evangelizadores, não somos cristãos autênticos».
«O amor é o distintivo do cristão, nisto conhecerão os homens e as mulheres de hoje que sois discípulos de Cristo», disse.
O IV Encontro «Juventude e Família», promovido pelo Movimento Regnum Christi e pelos Legionários de Cristo, reuniu mais de 4 mil pessoas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na capital do Brasil, sendo que a maioria dessas pessoas eram de jovens e famílias jovens. Também estiveram presentes no evento jovens consagradas dentro do Movimento.
O movimento Regnum Christi é realidade eclesial reconhecida pela Santa Sé que conta com cerca de 70 mil membros, jovens e adultos, diáconos e sacerdotes, em mais de 30 países.


Bispos do Japão: «fundamentalismo de mercado» é contrário à dignidade do homem
Em sua mensagem com ocasião do aniversário dos Direitos Humanos

TÓQUIO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- «A miséria econômica constitui uma ameaça para a paz mundial, e a aplicação rígida, sem regras morais, das leis do mercado é uma das principais causas de humilhação da dignidade humana». É o que afirmam os bispos do Japão em uma mensagem divulgada por ocasião do aniversário da Declaração dos Direitos Humanos.
No texto, que L'Osservatore Romano recolhe em sua edição desta terça-feira, os prelados afirmam que para assegurar a paz no mundo é urgente «garantir a todos, e muito mais no clima de incerteza atual pela crise econômica mundial, a aplicação dos direitos humanos, libertando os povos da miséria».
Os bispos reconhecem o «longo e importante caminho» percorrido após as duas guerras mundiais e a proclamação dos direitos humanos, e os esforços de «muitas pessoas e organizações» nesse sentido.
Contudo, recordam, «é fato que a desigual distribuição da riqueza, e, em consequência, a desigual distribuição dos lucros, ampliou as diferenças entre os países ricos e os países pobres», e afirmam que a causa desta situação está no que chamam «fundamentalismo de mercado».
Trata-se da aplicação «impiedosa» da lógica do mercado, afirmam, que «produziu graves danos como a deterioração do meio ambiente e a mudança climática», assim como «o aumento dos preços dos alimentos e do combustível».
Isto é consequência, acrescentam, «das leis de um mercado sem alma que fez ainda mais miseráveis as condições de vida de multidões de pobres em todo o mundo, pondo em perigo o direito fundamental à vida».
Os bispos afirmam com ênfase que «se os indivíduos, as empresas e as nações seguirem buscando seu próprio interesse, a dignidade humana será pisoteada e o mundo será cada vez mais violento e disforme», no qual as vítimas, «cuja dignidade humana é violada impunemente, se converterão em presa fácil da tentação à violência».
«Não há tempo a perder», acrescentam. A crise «não é em primeiro lugar estrutural, mas moral». Os prelados se dirigem a toda a sociedade japonesa, começando pelos católicos.
«Se não fizermos nosso o ponto de vista dos marginalizados, nós, inclusive sem intenções maliciosas, acabaremos ao lado daqueles que dizem que um certo grau de violação dos direitos humanos é inevitável», concluem.

Fonte: Zenit.org

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