quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bento XVI supera debate sobre justificação pela fé e pelas obras

ZP08111912 - 19-11-2008
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Bento XVI supera debate sobre justificação pela fé e pelas obras

Dedica a catequese a explicar a questão da justificação

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 19 de novembro de 2008 (ZENIT.org).- Bento XVI dedicou a catequese desta quarta-feira, dentro do ciclo sobre São Paulo, a explicar o que o apóstolo entendia por justificação, uma das controvérsias teológicas que mais dividiu os cristãos desde a Reforma.

O Papa explica que precisamente Lutero se apoiava na Carta aos Romanos para afirmar que a sola fide justificava os homens perante Deus, sem necessidade das obras da Lei.

A chave da controversa está, afirma Bento XVI, em compreender o que São Paulo entendia por Lei, que não deve ser entendida simplesmente como «lei moral», mas que se arraiga no conceito de justificação no povo judeu.

«Para São Paulo, como para todos os seus contemporâneos, a palavra Lei significava a Torá em sua totalidade», a qual implicava para um fariseu como Saulo «um conjunto de comportamentos que iam desde o núcleo ético até as observâncias rituais e culturais que determinavam substancialmente a identidade do homem justo».

Esta observância rigorosa se havia radicalizado entre os judeus piedosos como uma forma de proteção frente à cultura helenística, a qual, explica o bispo de Roma, «era uma ameaçava à identidade de Israel, que estava politicamente obrigado a entrar nesta identidade comum da cultura helenística com a conseguinte perda de sua própria identidade, perdendo assim também a preciosa herança da fé de seus pais, a fé no único Deus e nas promessas de Deus».

A observância da Lei, especialmente nesta época tardia, funcionava «como muro de diferenciação, um escudo de defesa que protegia a preciosa herança da fé; este muro consistia precisamente nas observâncias e prescrições judaicas. Paulo, que havia aprendido estas observâncias precisamente em sua função defensiva do dom de Deus, da herança da fé em um único Deus, via esta identidade ameaçada pela liberdade dos cristãos: por isso os perseguia».

Neste sentido, adquire novamente relevância o momento central da vida do apóstolo, sobre a qual o pontífice volta continuamente em sua catequese: o encontro com Cristo no caminho de Damasco, quando Paulo «entendeu que, com a ressurreição de Cristo, a situação havia mudado radicalmente».

«A iluminação de Damasco mudou radicalmente sua existência: começou a considerar todos os seus méritos, conquistas de uma carreira religiosa integríssima, como ‘lixo’ frente à sublimidade do conhecimento de Jesus Cristo.»

«Com Cristo, o Deus de Israel, o único Deus verdadeiro se convertia no Deus de todos os povos. O muro – assim diz a Carta aos Efésios – entre Israel e os pagãos já não era necessário: é Cristo quem nos protege contra o politeísmo e todos os seus desvios; é Cristo quem nos une com e no único Deus; é Cristo quem garante nossa verdadeira identidade na diversidade das culturas, é Ele o que nos torna justos», acrescenta.

Portanto, continua o Papa, a controvérsia já não está entre a fé e as obras, pois «ser justo quer dizer simplesmente estar com Cristo e em Cristo. A fé é olhar para Cristo, confiar-se a Cristo, unir-se a Cristo, conformar-se com Cristo, com a sua vida. E a forma, a vida de Cristo, é o amor; portanto, crer é conformar-se com Cristo e entrar em seu amor».

Neste sentido, acrescentou, «a expressão solo fide de Lutero é certa se não se opõe à fé, à caridade, ao amor», e por isso São Paulo, quando fala de justificação, «fala da fé que age por meio da caridade».


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